Desde 2020, está em vigor no Brasil a Resolução 327 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que explica e orienta como é o processo de regularização de produtos de Cannabis para fins medicinais.
Apesar de ainda estar cercada de dúvidas e estigmas, a Medicina Endocanabinoide ganha força e vem se desenvolvendo nos últimos anos no Brasil. Segundo o g1, os pedidos de importação de medicamentos à base de Cannabis aumentaram 15 vezes nos últimos 5 anos.
A previsão do número de atendimentos que podem prescrever produtos à base de Cannabis atualmente é de 26 condições médicas, de acordo com a Kaya Mind, empresa criada para a análise de mercado da planta. As descobertas sobre o Sistema Endocanabinoide na segunda metade do século XX, impulsionaram os estudos sobre a Cannabis, o que ajudou a consolidar as pesquisas científicas ao redor do mundo e a contextualizar as propriedades terapêuticas das substâncias em diferentes quadros clínicos.
O que é a Medicina Endocanabinoide?
Apontada como uma ferramenta terapêutica indispensável na Medicina do Futuro, a descoberta de canabinoides como o THC e o CBD levou a uma investigação minuciosa a partir do questionamento de como as moléculas funcionam no corpo humano.
Foi então que os pesquisadores descobriram o Sistema Endocanabinoide (SE), revolucionando os estudos sobre a importância da medicina endocanabinoide ao identificar o funcionamento dos canabinoides e revelar um sistema fisiológico sofisticado que ajuda o corpo a manter a homeostase.
Como explica o Royal Queens Seeds, autoridade na área, os cientistas identificaram três elementos-chave compondo o sistema endocanabinoide: endocanabinoides, receptores canabinoides e enzimas.
Endocanabinoides
São sintetizados no corpo e atuam como moléculas sinalizadoras que se ligam aos receptores do SE. Os principais são a anandamida e a 2-AG.
Receptores canabinoides
CB1 e CB2 são os principais receptores apresentados no sistema endocanabinoide. Esses locais de ligação surgem em diversos tipos de células no organismo. Segundo o Royal Queens Seeds, “os diferentes canabinoides se ligam, bloqueiam, ou moldam a atividade desses receptores, que incluem os endocanabinoides, os fitocanabinoides (que se encontram nas plantas) e os canabinoides sintéticos produzidos em laboratório.”
De acordo com os investigadores, o TRPV1 (receptor de potencial transitório do tipo vaniloide 1) também faz parte da rede, servindo como um local de ligação para o CBD, THC e anandamida.
Enzimas
A Anandamida sofre degradação e decomposição por enzimas do sistema endocanabinoide onde a principal é a FAAH.
Como atuam os receptores canabinoides?
Como vimos, no sistema endocanabinoide, temos dois locais de ligação principais: os receptores CB1 e CB2, que atuam de forma diferente no corpo humano.
Receptores CB1
Os receptores CB1 são basicamente encontrados no cérebro. Eles tem por função controlar níveis e funcionamento de outros neurotransmissores. É responsável modular fome, termorregulação e estado de alerta.
Receptores CB2
São encontrados principalmente no sistema nervoso periférico e células imunes. Sua ação é responsável por controlar nosso funcionamento imunológico, modulação da inflamação, contração e dor.
Indicações da Medicina Endocanabinoide
Segundo a Harvard Health Publishing, os cientistas seguem investigando o sistema endocanabinoide, mas já se descobriu que é fundamental para quase todos os aspectos do nosso funcionamento corporal, atuando de forma ativa no controle das seguintes funções:
Essas funções contribuem para a homeostase, ou seja, a estabilidade do ambiente interno em nosso corpo. É interessante observar o exemplo a seguir para facilitar quem tem pouca familiaridade no tema: “Se uma força externa, como uma lesão ou infecção, desequilibrar a homeostase do seu corpo, o SECB entra em ação para ajudar seu corpo a retornar ao funcionamento ideal. Nesse sentido, a compreensão do sistema endocanabinoide pode levar ao desenvolvimento de medicamentos que ativem ou que bloqueiem a ação do SECB.” (Fonte: Cardiohub)
Inicialmente, os estudos estavam focados em entender como uma planta considerada droga ilegal no país poderia agir sobre o nosso organismo. Com o avanço das pesquisas, porém, encontrou-se um sistema surpreendente e concluiu-se que as descobertas científicas que o acompanham são fundamentais para desenvolver novos medicamentos e terapias com o objetivo de aliviar diversos sofrimentos.